"Um corpo sem alma é como um disco de vinil que não toca ..."

"O jornalista fere no peito o escritor. O escritor repele o jornalista, por esmagá-lo, por obrigá-lo a renascer quase sempre de um mesmo patamar. Feliz daquele que, nesse embate, consegue servir, e bem, aos seus dois senhores..."

Política. Música. Música. Vida. Rock. Cinema. Cultura.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O que poderia ter sido e que foi

Texto reeditado e publicado no Binóculo esta semana.

“Passou a mão numa das melhores invenções humanas, discou para Sara e convidou-a para conversar, discutir, fazer nada, comer pudim.”

Sara levanta, veste um roupão, procura os cigarros, vai a cozinha tomar um café. Combinação fatal, certa. Onze da manhã, nada na tv, só pra variar. Nada no rádio só para constar. Nenhum recado na secretária, nada. As roupas para lavar. Deixa pra semana que vem, terei mais tempo hábil. Preciso de compras e de roupas e livros novos, também. Ah! O supermercado! Ficará pra domingo, sem saco nenhum para percorrer prateleiras hoje, ainda tenho ovos e batatas na geladeira. Joga-se na cama, pega o romance quase terminado de Fernando Sabino, espreguiça-se como se houvesse hibernado e abriu a boca como se tivesse cochilado. Enfim um banho e uma porra dum telefone que não toca. As contas e depósitos no banco já venciam de tanto deixar para amanhã e amanhã e amanhã. Uns cinco dias atrasados já. Sua gata branca sobre a mesa levou um grito na orelha e escafedeu-se. Pô Sara, podia ter sido mais gentil com o gato. Ah, que se dane também. O mau humor imperava fazia umas 56 horas, culpa da TPM. Se ela não existisse, colocar a culpa em quem?

Pensou no cano da cozinha vazando enquanto procurava o isqueiro. Onde será que enfiei o telefone do encanador, aquela cartãozinho, deixa pra lá, depois eu vejo, vou chamar o Alceu, acho que ele quebra essa pra mim. E assim foi-se a tarde e o início e o meio da noite. Levanta, coça, lê, lê revista Cláudia, liga tv, desliga tv, liga o rádio, come um petisco, outro café e outros cigarros. Pensa nos compromissos e deixa para resolver depois.

Enquanto isso na sala de justiça....

No mesmo instante, do outro lado da cidade Beto pensava que certas mulheres ficam ótimas de vestido:

*Como as mulheres são lindas
Inútil pensar que é do vestido
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.


Pensava também na bola que gostaria que fosse a “da vez”: Sara. Ouvia Rolling Stones num volume satisfatório de seu aparelho de som. Arrumava a bagunça da sala de justiça. Ela acendia outro cigarro e devorava um pacote de Rufles idealizando uma caminhada matinal para emagrecer alguns quilinhos. Beto, cansado também da monotonia nossa de cada dia, mesmo com um bom jogo na telinha, teve um estalo (click!). Passou a mão numa das melhores invenções humanas, discou para Sara e convidou-a para conversar, discutir, fazer nada, comer pudim. Aceitou. Sara de batom e brincos redondos tocou a campainha, pediu licença. Sentou-se no sofá azul, ouviu música, debateu, discutiu e antes de dar o boa noite cordial, sugeriu que se despissem. Depois da proposta acharam melhor ficar acordados.

* Manoel Bandeira.

Bom fim de semana pra todos!

5 comentários:

Rodrigo van Kampen disse...

Cara, curti essa crônica. O que eu gostei mais mesmo foi dessa descrição no começo, a ambientação ficou boa pra caramba"

Samantha Abreu disse...

texto ótimo!
eu sou dessas: não só bonita, mas tmbém simpática!
ahahahaha.... e, às vezes, ainda por cima, uso vestido!
ahahahahaa

beijos!

GABRIEL RUIZ disse...

Rodrigo,
Muito agradecido, vindo do maior cronista da minha sala, chega a ser uma honra.
=)

Samantha,
muito obrigado!
Jura que vc fuma cigarros desenfreadamente como a Sara?
E usar vestido, penso ser uma grande estratégia das mulheres, vcs ficam lindas, já dia o Bandeira!
otro beijo

Anônimo disse...

Preciso comprar mais vestidos! :)
Mto bom texto, Gabriel! Bjos

Rodrigo van Kampen disse...

Barbudinho, eu te linkei lá no navegandosonhos pro BlogDay2007.