"Um corpo sem alma é como um disco de vinil que não toca ..."

"O jornalista fere no peito o escritor. O escritor repele o jornalista, por esmagá-lo, por obrigá-lo a renascer quase sempre de um mesmo patamar. Feliz daquele que, nesse embate, consegue servir, e bem, aos seus dois senhores..."

Política. Música. Música. Vida. Rock. Cinema. Cultura.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Você não curte nada?

João descia a rua calçando meias por debaixo das sandálias de couro barato. Ao seu lado, Alice. Os cabelos embaraçados. Pouco distantes um do outro. Ao retornar para o lar encontrou um aspecto maluco um tanto quanto mendigo caminhando. O rapaz um tanto quanto mendigo disse, e aí? E aí, replicou João em seguida. Pediu um gole daquilo que João carregava numa garrifinha de água, debaixo do braço. Nunca negava pinga, não seria desta vez. Pode tomar. Tomou e proseou. Eu sou músico, Gaetaninho do Teclado. Sério? Sério. Não acredita? Eu canto para vc ver. Então canta. E cantou:

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim

Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim

A cidade apavorada...

Bom...

Fitou Alice; ela apenas observava. Desconfiou que o maluco um tanto quanto mendigo fosse mesmo o músico Gaetaninho do Teclado. E então, o que achou? Interessante. Com teclado seria melhor, João disse, dando passos à frente, querendo finalizar o papo.

Instantes de silêncio. Romperam. Você não curte nada? Nada. Nada? Nada. Impossível. Nem cigarro? Nem. Só álcool. Só? Só. Nem remédio? Nem.

O maluco um tanto quanto mendigo desconfiou: com essa cara? Duvido. Nem ...? Nada, já disse. E você?, perguntou erguendo a cabeça, virando-se para Alice. O que? Também não curte nada? Curto. O que? Tudo. Como assim tudo? Tudo. Não é possível. Pois é. Tudo. À que você se refere? Tudo. Abismou. Quietou. Ouviu o vento.

Nós vamos indo sabe, queremos ficar juntos, escorando a cabecinha no ombro e chora. Ah tá, entendi, já passou da minha hora. Foi um prazer. Seria uma honra vê-los apreciar Gaetaninho dos Teclados. Por estas bandas? Por aquelas; apontou com o dedo. Farei o possível. Meneou a cabeça e finalizou, muito agradecido, bom descanso pra vocês. Igualmente. Desceram a rua de paralelepípedos; escorreu o braço até a cintura dela. O aspecto maluco um tanto quanto mendigo dobrou a esquina, preparou-se para atravessar a via. Não deu. Antes de pisar a faixa de pedestres um terráqueo acelerava o novo lançamento da moto que você compra em 187 parcelinhas. Deu um rasante. Aterrissou o maluco um tanto quanto mendigo na capa do noticiário do dia seguinte ao sábado.

Dedicado ao grande amigo e contador de estórias Renato Malandro.

4 comentários:

Samantha Abreu disse...

Noovo Layout!
yes!

e um conto assim tão cotidianamente doce.
Adorei!

Morganna disse...

Aha!! Novo Layout!!! Adoooreeeeeei!
e eu tbm adorei o conto!
\o/ =***

GABRIEL RUIZ disse...

Obrigado!
A saber. O layout está em fase de testes estéticos. Tem o apoio de: Avon.

Anônimo disse...

Gosto do seu layout novo também! ^^ E gosto muito das suas histórias... =)
Quanto à minha, ela é só licença poética, sem bases na vida real. Mas a cena é legal, não? Bizarra e interessante. *rs* Pelo menos eu achei quando ela brotou na minha cabeça. ;D